Verdade Chinesa

sexta-feira, 17 de julho de 2015

House of Cunha

Talvez não esteja tão atarefada como já estive antes. Enfrentando a terceira greve de professores federais de minha carreira estudantil, eu deveria sim ter tempo livre - ao menos teoricamente. Na prática, a situação porém é outra, e em meio a produção de artigos e a leituras atrasadas que devem ser colocadas em dia, ainda não tive tempo de atualizar House of Cards, da Netflix, e acompanhar o jogo político que levará Frank Underwood a presidência dos Estados Unidos. Do jogo político no qual está o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, porém, não me abstenho. E ouso dizer que ele articula tão bem quanto Frank Underwood e que seus golpes e suas ações em nada envergonhariam o personagem de Kevin Spacey. 
Antes de mais nada, preciso me desculpar. Escrever tudo o que é necessário ser escrito sobre Cunha me demandaria muitas horas e no mínimo 10 postagens diferentes. Por isso, peço perdão por não falar da redução da maioridade penal nem dos seus planos de auxiliar seus patrocinadores de campanha. Hoje, preciso comentar sobre o tão esperado fim do relacionamento entre Cunha e o governo. O clima é de despedida. Só me sinto preparada pra escrever sobre isso depois do play em All by myself, que talvez seja a música que Dilma escuta agora, com a perda de um "aliado" que lhe apoiava apenas em teoria, como sempre fez questão de afirmar e como sempre deixou claro em seus votos na Câmara. 
É por isso que é interessante (e hilário) que agora, revoltado com a delação de Júlio Camargo - que lhe acusa de intimidação e de pedido de propina de 5 milhões de reais - o presidente tente intimidar o governo com uma saída da base que, na prática, já aconteceu faz tempo. Agora, que a ética e o suposto bom nome de Cunha está em jogo, os delatores Júlio Camargo e Youssef são uma tentativa de golpe de Janot contra ele.
Claro que também se começa a questionar os diversos vazamentos da delação premiada do doleiro. Questiona-se agora tudo o que ele já tenha dito, simplesmente porque finalmente associou-se Eduardo Cunha a Operação Lava-Jato. Espero do "paladino da justiça" Sérgio Moro tratamento idêntico ao que foi dispensado a Vaccari Neto. Espero que não haja nenhum tipo de simpatia do juiz para com o peemedebista: graças a Deus, apesar dos dois constantemente ignorarem a Constituição Federal, Moro já divulgou uma nota em resposta a afirmação de Cunha de que ele é dono do país dizendo que não está em seu poder silenciar testemunhas.
Quando perguntado sobre as tentativas de intimidação pelas quais foi acusado, a assessoria do peemedebista afirmou que ele não comenta leviandades. Me pergunto o que pensa a família tradicional brasileira sobre isso. Acusações de intimidação e de ter pedido 5 milhões de reais de propina são leviandades? Talvez agora que ele foi formalmente e politicamente para a oposição, Aécio Neves e ele possam chegar a um consenso de melhor emprego da palavra leviano. 
Enquanto Eduardo Cunha deseja que o governo lamente sua saída da base, eu estaria comemorando. Já há quem o compare a Severino Cavalcanti, presidente da Câmara que renunciou ao cargo por pressão muito menor do que a que enfrenta Cunha agora. Com ou sem impeachment, é a maior vitória da base desde nem me lembro quando. Não é hora de All by myself, é hora de dançar a Macarena. Agora, nos resta pressionar, torcer e assistir TV Câmara. Pode ser que House of Cunha esteja, afinal, ruindo e em seus últimos dias.