Verdade Chinesa

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O fenômeno Marina Silva

A trágica morte de Eduardo Campos transformou Marina Silva, agora candidata a presidência, em um verdadeiro fenômeno político. As pesquisas do Datafolha veiculadas em 30/08, apontam empate técnico entre Marina e Dilma no primeiro turno e dão apenas 15% dos votos a Aécio Neves. Eu, sendo Dilma e Aécio, estaria preocupadíssima. Aécio porque pode fazer história, negativamente falando. O PSDB vai pelo menos ao segundo turno desde 2002. O auge do fenômeno Marina Silva é, paralelamente, a decadência da campanha presidencial do psdbista, cujas intenções de voto continuam em queda livre. Num eventual segundo turno, Marina contaria com os votos dos eleitores de Aécio Neves, de modo que as pesquisas apontam 10 pontos de vantagem dela sobre a atual presidente. Nem Lula, em meio a todos os escândalos de corrupção, se viu em uma situação tão complicada. Talvez por falta de um nome forte na oposição. José Serra alguma vez foi adversário digno de Lula? É muito interessante, dessa forma, observar que o maior obstáculo do PT nesse momento mais uma vez não vem do partido tucano, e sim de Marina Silva, uma "cria" do próprio partido e a mais nova queridinha do país.
É necessário, no entanto, analisar um pouco mais de perto a suposta nova política que Marina afirma ser. Qual dos seus novos eleitores sabem suas propostas para melhorar a educação? A saúde? A segurança? Um dos meus professores questionou uma colega sobre em quem ela iria votar. Quando ela respondeu Marina Silva, ele logo lhe perguntou o porque. Ela não sabia. A resposta foi de que "ela é muito humilde e gente boa".
Ela não sabia porque Marina é a rainha dos discursos vazios. Cheguei a rir da entrevista dela ao Jornal Nacional, mas, ao contrário do que aconteceu com a de Dilma, não li críticas a ela pela evasividade das respostas. Certa vez, li uma opinião de Ciro Gomes que sempre ressoa na minha mente quando ouço o discurso cheio de frases de efeito que Marina Silva passou a falar. "Tenho pavor de ver a superficialidade irresponsável com que Marina trata todos os assuntos políticos do Brasil". Não poderia concordar mais. Alguém por acaso sabe que somente para cumprir suas propostas de mobilidade urbana a candidata gastaria mais do que é investido em saúde ou educação no país? Não. Mas desde quando as promessas dela precisam ter coerência? Marina não precisa apresentar propostas coerentes porque é a imagem perfeita pra qualquer diretor de marketing vender. Se Dilma agrada somente aos mais humildes e se Aécio só é querido pelas elites, Marina consegue a proeza de agradar gregos e troianos. Para agradar aos mais pobres já é suficiente que ela tenha essa cor mestiça, esse biótipo de sofredora, batalhadora, analfabeta até os 16 anos, perseguida em seu próprio estado por lutar pela causa na qual acredita. É uma bela história de vida, de fato. Mas será que isso deveria ser suficiente para alcançar os votos dos brasileiros? À elite, agrada artistas e intelectuais. É historiadora, psicopedagoga, professora. E pra agradar mais, já lançou um programa de governo similar ao dos tucanos, propondo diminuir gastos do Estado, cortar ministérios e reduzir a ação dos bancos estatais, colocando o poder nas mãos dos bancos privados. 
Há quem compare Marina com Lula, mas os dois são extremamente diferentes. Para aqueles que verdadeiramente conhecem a história brasileira, é impossível não se lembrar de Jânio Quadrosou de Fernando Collor de Melo. Marina é a Caçadora de Marajás. Marina é também a mulher da vassoura.
As similaridades não param por aí. Marina é a "nova política" em oposição a uma velha para formar um "novo Brasil". Collor e Jânio também eram. Os três usaram e abusaram da simpatia para conquistar a aceitação do povo brasileiro. O alagoano e a acriana foram patrocinados pela elite brasileira - no caso de Marina, um dos nomes é a socióloga Maria Alice Setúbal, herdeira do banco Itaú - e pela nojenta mídia brasileira, que sustentou a eleição de Collor nas costas e já começa a dar sinais de que aguentará o peso da de Marina também. 
Eu também tenho pavor da superficialidade, Ciro Gomes. E se Regina Duarte pode dizer do que tem medo, eu também posso. Tenho medo que, por pressão, Marina não aguente o cargo presidencial e o abandone, como fez com o Ministério do Meio Ambiente e como o fez Jânio Quadros em mais uma das coincidências entre os dois, em 1961. Tenho medo que a história se repita, e que assim como a nova política proposta por Jânio e Collor deu errado, essa de Marina dê também. Que tipo de "nova política" é essa, que já começou sendo transportada em jatinho irregular? Marina Silva pode ser fenômeno sim, mas é inegável a incoerência e o discurso inconsistente que a cerca ao mesmo tempo. Evangélica, assumiu o compromisso de legalizar o casamento gay e a adoção de crianças por casais homossexuais. Voltou atrás. Agora, já não apoiará a causa. Não é também contraditório que a ex-ministra do Meio Ambiente, que citava em projeto de lei até verso bíblico na luta contra os transgênicos, tenha afirmado que sua oposição a estes era uma lenda? Mais contraditório ainda é Marina dizer que vai seguir a política econômica de FHC e a política social de Lula. Água e óleo se misturam, caro leitor? Marina promete não se envolver em alianças com os congressistas. Me pergunto como ela aprovará qualquer uma das promessas mirabolantes que tem feito. É preciso que a população brasileira não fuja da verdade. É preciso perceber que o discurso de Marina Silva, quando submetido ao calor de uma análise, é mais inconsistente que manteiga e derrete bem mais rápido que esta embaixo do Sol. 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

As Conspirações por trás das Teorias Conspiratórias

Não poderia começar esse texto de outra forma, senão expressando meu sentimento de luto e pesar pela morte do ex-governador de Pernambuco e do candidato a presidência da República, Eduardo Campos. O trabalho dele - tanto como governador de seu estado tanto como Ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula - foi excepcional. Mais do que isso, a importância que o candidato dava ao que deveria ser essencial - a educação - tem de ser ressaltada. No dia anterior ao seu falecimento, assisti a sua entrevista no Jornal Nacional na qual afirmava que os três pilares de seu governo seriam educação, educação e educação. Porque eu não duvido? Porque não acho que fosse mera promessa de campanha? Simples. Porque ele já o fez, durante seus dois mandatos (o segundo não concluído pelo início da campanha presidencial) em Pernambuco, onde fora reeleito com incríveis 83% dos votos. Realmente uma pena que com a política atual tão centralizada, o nome mais forte rumo a despolarização tenha sido perdido. Deixa 5 filhos, o mais novo, com apenas meses de idade e portador da Síndrome de Down. Sinto muito pela família. Sinto também pelos brasileiros. Achei que veria Eduardo Campos, num futuro mais distante, presidente deste país. Me enganei.
Apesar do pesar, acho importante falar sobre uma série de teorias conspiratórias que têm se espalhado pela rede. Amo a globalização e suas facilidades. A própria notícia da morte do pernambucano chegou em questão de horas após a queda do avião. Mas a mesma rede que divulga notícias praticamente em tempo real difama (vários) candidatos a presidência da Republica com teorias conspiratórias que, direta e indiretamente, influenciam no voto de uma parcela do grupo eleitor.
Digo isso porque recebi, no mesmo dia da morte do ex-governador, um SMS com teor supostamente cômico, mas com entrelinhas poderosas. O SMS dava a entender que o acidente, de acidente, não tinha absolutamente nada. O SMS ligava Dilma não só ao acidente de Campos, mas também ao grupo extremista Hamas. Me assustei. Será que não seria culpa dela também a briga pela Crimeia? Foi a única mentira que o desconhecido autor da mensagem esqueceu de contar.
Escrevo não para defender a candidata petista ou para dizer "ela ou seus companheiros petistas jamais fariam isso", porque mesmo tendo ciência de mensalões e desvios, desconheço o quão corrupta, infame e irracional pode ser a política brasileira e a sede de poder de seres humanos. Escrevo apenas tentando ratificar - e agora o faço - de que boatos como esses não devem e não podem influenciar o eleitor brasileiro. E não somente no que diz respeito a votar ou não em Dilma, mas sobre votar ou não em Aécio (já li teorias que creditam a ele a culpa do acidente) e sobre a própria Marina Silva, provável sucessora de Campos na corrida presidencial. Outro fator importante é não deixar a compaixão pelos familiares de Eduardo decidirem o futuro deste país. Campos infelizmente faleceu, mas nós, os vivos, continuaremos a colher o que plantamos e a sofrer com os atos daqueles nos quais votamos. Alguns tucanos estão assustados. Pesquisas internas, realizadas após o acidente, colocam Marina Silva com porcentagem similar a de Aécio. Estamos emocionados, chocados, comovidos e bestificados com o acidente. Mas porque levar a bestificação conosco para as urnas?
Eu sei. É difícil. É difícil não votar com o coração e é difícil não amar teorias conspiratórias. Eu também amo teoria sconspiratória. O que diabos aconteceu com o corpo de Ulysses Guimarães? Teria ACM mandado colocar açúcar na gasolina do helicóptero de Clériston Andrade? Qual a verdade sobre o acidente dele? São respostas que provavelmente jamais teremos. Se eu pensei sobre a possibilidade de Eduardo Campos ter sido assassinado? Pensei. Mas não divulguei como verdade, ou afirmei o ser. Fatalidades acontecem. Ou teria a torcida do Grêmio mandado matar Fernandão? Cuidado. Há muita conspiração por trás da divulgação em massa de teorias conspiratórias. Não deixe que isso afete o seu voto. Vote por escolha sua. Não deixe que, assim como o infeliz destino ceifou a vida de Eduardo Campos, a sua escolha de voto seja, indireta, discreta e sutilmente, ceifada de você.

PS - Não sou do tipo que só porque alguém morre esse alguém vira um santo. Admiro muito Eduardo Campos sim, como tentei deixar claro no texto, mas não concordei nem um pouco com a união política dele a Marina Silva, como você pode ler no texto Enrolados na Rede, publicado meses atrás.
PPS - Estou no último ano do curso, fazendo pré-vestibular e inglês ao mesmo tempo. Peço desculpas por não escrever com a frequência que eu mesmo gostaria... Mas tá muito difícil arranjar tempo pra dormir, quem dirá para escrever. Conto com sua paciência e fidelidade.

domingo, 9 de março de 2014

Se eu quiser beber, eu bebo?

Sou soteropolitana, mas não faço parte do grupo que ama carnaval e sai em todos os blocos. Assim sendo, esse texto não é sobre o sucesso do lepo lepo, ou sobre a saída de Bell do Chiclete com Banana. Nada disso é inconstitucional. Inconstitucional foi, por sua vez, a exclusividade de vendas da cervejaria Schincariol no circuito Osmar, no Campo Grande, e da cervejaria Itaipava no circuito Dodô, na Barra/Ondina.
As duas cervejarias investiram mais de R$ 20 milhões no carnaval de Salvador para obter a exclusividade da venda. Me pergunto que direito tem ACM Neto, sem sequer abrir licitação, de vender o direito dos ambulantes e comerciantes de venderem o seu produto. Mais de 200 mil latinhas de outras marcas foram apreendidas durante a festa, já que isso prejudicava as vendas dos patrocinadores. E não foram só os comerciantes que sofreram com a sanção: o folião que era visto tomando a cerveja proibida também tinha sua cervejinha apreendida.
São tantos os argumentos contra essa exclusividade que fica difícil escolher apenas um. E se no próximo ano a C&A resolver patrocinar a festa? Quem estiver na rua com roupas de outras lojas ficará nu? Parece, a mim, um monopólio das cervejas. Um ato de caráter ditador, mas quem se surpreende?  Assim, que se dane se o folião não gosta de Itaipava. Quem se importa se ele acha que "porque sim" não é  resposta? Netinho não é ditador. Ele jamais se assumiria assim. Ele é criativo. Ele é competente. Enganam-se. Ele é o neto da ditadura em forma de gente.
Não é novidade que nossos direitos básicos a educação, saúde e segurança têm sido negligenciados. O cidadão infelizmente já se acostumou com isso. O argumento do prefeito é de que com o patrocínio no carnaval, sobra dinheiro para investir em outras áreas, como a saúde. Será que realmente veremos este dinheiro que "sobrou" sendo bem utilizado? Faz-me rir. Esta exclusividade mexeu apenas no bolso do ambulante que teve mercadorias apreendidas e dos comerciantes que tiveram empreendimentos legalmente saqueados. Se muitos duvidavam que Neto seguiria os passos ditadores do avô, esta é a prova. A maçã enfim mostrou a que distância caiu da árvore. Não foi muito longe.