Acompanhei com bastante interesse o imbróglio de Marina Silva na tentativa de criação do Rede Sustentabilidade. A ex-senadora surpreendeu a todos ao conseguir 20 milhões de votos na última eleição presidencial, e surpreendeu o país novamente hoje (05/10) ao anunciar sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Digo surpreendeu porque poderiam acusar Marina de muitas coisas, mas não de incoerente. A ambientalista abandonou o PT quando achou que este não partilhava mais dos seus ideais e se aliou ao PV, pelo qual disputou a eleição de 2010. Também abandonou o PV, prometendo uma nova opção entre os pólos da política atual, que se concentra em petistas e psdbistas. Marina prometeu uma nova política. Onde está ela? Na aliança com o PSB?
Não nego que deve ter sido uma situação complicada. Marina teve o registro de seu partido negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira, quando o prazo máximo para a criação de um partido que quer apresentar candidato a próxima eleição é neste sábado. A ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula encontrou dificuldade não somente em adquirir as assinaturas necessárias para a criação do Rede Sustentabilidade, mas também na validação destas. Muitos cartórios demoraram na validação e outros invalidaram as assinaturas sem apresentar nenhuma justificativa. Todavia, não estou aqui questionando o processo de criação de partidos políticos no país, ou mesmo a decisão do TSE, com a qual eu concordo. O que questiona-se aqui é a decisão da ambientalista de se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Marina deveria ter se mantido fiel no que acreditava, mas não o fez. Se seguisse a ideologia que alega, a acriana teria abdicado participar da próxima eleição presidencial. Mas seu segundo lugar nas pesquisas provavelmente a fez perceber que uma legenda com o PSB de Eduardo Campos (atualmente quarto colocado) lhe cairia muito bem, politicamente falando. Se a candidata queria tanto participar das eleições, porque não escolher um partido menor e menos estruturado? Isso lhe daria algum espaço para desenvolver seus sonhos e ideais. Mas o PSB é mais forte. Uma legenda com Campos, visto os adversários, provavelmente lhe garantirá um segundo turno. Alguém aí quer conversar com o Aécio Neves?
E é por isso que ideologicamente falando, essa aliança com o PSB é incoerente e contraditória. Diferentemente do PV, o PSB sequer apresenta ideologia ambiental clara, que é um dos focos da acriana. Marina prometia uma nova política e novas opções. Não cumpriu. Apenas uniu-se a mais um partido que, apesar de ter um ou outro grande nome, como o próprio Campos, abandonou a base petista no meio do caminho.
No fim, o que a ex-senadora oferece com essa filiação é a impressão de que se transformou de opção de voto a apenas mais uma enrolada na rede, que infelizmente não é de sustentabilidade. É a rede da política e dos acordos eleitorais, com as quais imaginou-se que ela não compactuava. Não se decidiu ainda quem é vice e quem é candidato a presidência desta nova legenda. A única certeza que temos, todavia, é a de que o povo brasileiro foi, mais uma vez, enrolado.