Sei que vocês esperavam um texto polêmico quando eu voltasse a escrever. Talvez escreva sobre a vigilância de Obama, talvez não. Talvez escreva sobre a Jornada Mundial da Juventude, talvez não. Todavia, hoje, quero escrever sobre quem realmente mudou algo no mundo positivamente ao invés de falar sobre políticos e sobre como eles sempre acham métodos diferentes para nos roubar. Quero falar de coisa boa, mas não quero falar de Tekpix. Hoje, quero falar de Nelson Mandela.
O sul-africano completou 95 anos há dois dias atrás, e, infelizmente, creio que 96 não serão completados. Sei que podem me dizer que estou sendo pessimista, mas todos sabemos do estado, apesar de estável, crítico da saúde de Mandela. Assim, não quero fazer um texto bonito quando Mandela morrer. É execrável o que ocorre depois que todo mundo morre. Todos viram santos e pessoas de bem. Mas Mandela realmente foi uma dessas pessoas. Então acho justo que seu mérito seja atestado em vida, e não somente em morte. Ele merece.
Não estou dizendo que Mandela é perfeito. Sei muito bem de seu apoio a ditaduras que o auxiliavam no Congresso Nacional Africano (organização criada contra o apartheid). É óbvio que também sei que muitos colegas revolucionários enriqueceram de um dia para o outro. Mas estamos falando aqui de um homem que nunca abandonou a causa pela qual lutou. Nelson Mandela não se chama Lula.
Apesar de condenado a prisão perpétua, passou 26 anos preso. Nestes 26 anos, permaneceu lutando pela causa em que acreditava. Queria ver uma África do Sul unida, independente de raça. Repito: não estou dizendo que Mandela foi perfeito. Sua vida pessoal foi um caos, o que se reflete até hoje, nas brigas entre os netos e os filhos, que mal esperaram o ex-presidente (Mandiba, apelido carinhoso que recebeu em sua terra natal, presidiu a África do Sul entre 1994 e 1999) morrer para brigar pelo dinheiro. Três casamentos. Dois deles arruinados pela vida política ativa de Nelson, o que o impossibilitava de estar constantemente em casa. Sua mãe morreu achando que ele era um criminoso, já que o visitava na prisão e nunca entendeu pelo quê o filho lutava.
Foi finalmente solto pela pressão internacional que clamava sua libertação, em 1991. Em 1993, ganhou o prêmio Nobel da Paz e em 1994, a vitória na primeira eleição verdadeiramente democrática do país. Cumpriu seu mandato, que também não foi exemplar, mas que inevitavelmente, deu início a uma nova África do Sul. Uma África do Sul que tem seus problemas sim, mas que aceita brancos, negros, vermelhos e azuis, caso você seja de Avatar. Hoje, aos 95 anos, Mandela é um símbolo de luta e um dos principais nomes do século XX. Quando Mandela morrer, morrerá junto com ele um espírito egocêntrico sim, como pôde ser atestado em alguns momento de sua vida, mas também lutador de modo como talvez jamais tenha se visto. Jamais comparem a África do apartheid com o Brasil da ditadura. Aqui, você não era punido por ser negro e submetido a uma vida miserável apenas por ter nascido com determinada cor e não com outra. Comparar Dilma com Nelson Mandela seria engraçado, se não fosse triste (a comparação chegou a ser feita na campanha presidencial dela em 2010). Quando Mandela não abrir mais os olhos, a África do Sul praticamente morrerá junto com ele. Como disse o próprio Mandela, não há caminho fácil para a liberdade. Todavia, poucas são as pessoas que tem a coragem necessária para trilhá-lo até o fim, independente de tudo. Há dois dias atrás, Madiba completou 95 anos. São 34.675 dias. Continuamos contando com a certeza de que não lhe restam muitos, mas também com a certeza de que ele lutou e irá lutar, do jeito que pode, até o último segundo deles.
ps - Sei que prometi escrever por aqui com mais frequência e vontade não me falta. Mas entrei num ritmo insano de ter que fazer praticamente um relatório por dia, então perdoem-me e não me abandonem. Eu sempre volto.