Verdade Chinesa

terça-feira, 3 de abril de 2018

Ser mulher, como eu quiser

O último texto que eu escrevi, há mais de um ano, tinha como temática a perspectiva da sociedade sobre a traição. Em resumo: os homens têm o direito natural de trair e as mulheres são fracas se perdoam a traição e são fracas se não perdoam a traição. Mais de um ano depois de ter escrito sobre isso, sou praticamente obrigada a escrever novamente sobre outro double-standard ridículo da nossa sociedade machista: a de que os homens incisivos são fortes, determinados, e de que as mulheres são ditadoras, autoritárias, tiranas, mandonas ou algo do tipo.
Se você não se lembra de ter sido adjetivado com algum desses últimos adjetivos recentemente, certamente você que me lê é um homem. Eu já fui chamada com termos parecidos duas vezes desde sábado - e a semana está só começando. Quase comecei a acreditar que talvez, lá no fundo, isso fosse mesmo verdade. Não pense o leitor e a leitora que essa possibilidade não me passou pela cabeça. Sou passível de falhas como todo ser humano e tenho inúmeros defeitos, como todos vocês sabem. Acredite, caro(a) leitor(a): eu teria acreditado nisso, se alguma mulher também já tivesse me acusado - o que nunca aconteceu.
Hoje, percebi que das 7 disciplinas que peguei na faculdade no semestre atual, apenas uma é ministrada por uma mulher. Uma mulher forte. Determinada. Inteligente. Uma que provavelmente é pouco elogiada com esses adjetivos só porque tem cromossomos X ao invés de Y.
A primeira aula da supracitada disciplina aconteceu hoje. A professora foi constantemente interrompida e questionada por uma turma predominantemente masculina. Digo mais: a professora só foi interrompida por homens - eles achavam poder contribuir mais do que ela sobre o tema, apesar dela ter os dados empíricos, científicos e o título de mestra. "Professora, é óbvio que..." Sempre assim. Sempre erradas. Sempre óbvio que eles estão certos e nós não.
Ela soube se impor? Sim. Graças a Deus. A maioria não sabe. E nós não deveríamos ter que saber fazer isso.
O corpo docente da Faculdade é majoritariamente branco. Não é coincidência que eu tenha 6 professores homens, brancos, e só uma professora negra, mulher. É reflexo de uma sociedade na qual as mulheres são maioria enquanto estudantes no ambiente universitário e minoria nas posições de poder, seja em qual ambiente for. O que foi o impeachment, se não uma golpe misógino perpetrado por partidos conservadores para tirar uma mulher (também tida como dura, arrogante e autoritária) do poder?
Eu não escrevi nada no Dia Internacional da Mulher. Eu não escrevi nada durante um ano e meio. Porque? Porque eu estava e estou ocupada. Resistindo. Opinando. Me posicionando. Ser mulher, como eu quiser - só isso: já é muito. Na faculdade, no estágio, em casa, em todos os lugares, pra todas nós, todo dia: ser mulher é sempre uma questão de resistência. 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Iêê, Infiel

Muitas mulheres não pensam duas vezes ao responder o que fariam se fossem traídas por seus namorados e cônjuges. A enfática resposta delas - grupo no qual eu me incluo - é de que os deixariam. É a resposta oficial da maioria das mulheres, e, ouso dizer, a resposta esperada e celebrada de uma sociedade que tem se mostrado cada vez mais feminista (apesar de ainda haver, claro, muitos machistas inseridos nela, tema o qual não pretendo me aprofundar neste texto). 
Na prática, todavia, muitas não agem assim. Muitas desse grupo que respondem tão certas de si pesam os anos, os filhos, tudo o que elas deram de si mesmas para fazer aquele relacionamento dar certo. Scott Fitzgerald, autor de O Grande Gatsby, escreveu em um de seus contos (cujo nome confesso não me lembrar agora) que há vários tipos de amor, mas nunca o mesmo amor duas vezes. Cada relacionamento tem sua dinâmica diferente. Uma mesma pessoa se doa à relacionamentos distintos de modos diferenciados. Isso cria relacionamentos diferentes e impede a possibilidade de que o mesmo amor se repita. Porque não estabelecer a mesma linha de pensamento com a traição? Como uma traição pode significar o mesmo para duas pessoas diferentes? Como a traição em um relacionamento pode trazer exatamente a mesma dor da infidelidade de outro? Também não há a mesma traição duas vezes, eu diria.
É por isso que, apesar de hoje jurar que jamais perdoaria uma, devemos respeito à quem decide perdoar. Perdoar é uma dádiva que deveria ser celebrada, não algo que deveria ser vergonhoso. Era nisso que pensava quando ouvi, hoje, duas mulheres no meu ônibus julgarem Hillary Clinton como uma candidata despreparada para assumir a presidência dos Estados Unidos porque Bill Clinton, seu marido, a traiu, e ela, supostamente no ápice de sua fraqueza, o perdoou. Se ainda não está claro, explico: perdoar exige força também. Exige confiar que tudo o que você construiu é maior do que o que aconteceu. Exige lidar com tudo o que uma infidelidade traz consigo - as incertezas, as inseguranças. Exige acreditar no amor que vocês construíram e de que ele é capaz de superar todos os problemas. 
O que me surpreendeu não foi Donald Trump, seu adversário na disputa presidencial, sair ileso na conversa que ouvi por suas infidelidades e seus constantes comentários desrespeitosos sobre as mulheres (daria um livro o que os homens conseguem fazer sem serem responsabilizados). O que me surpreendeu foi ver duas mulheres julgando outra como fraca porque ela não disse "eu quero ver você morar num motel/ estou te expulsando do meu coração/ assuma as consequências dessa traição" diante do mundo. Ficar exige lidar sim com as consequências de uma traição e não deve, em relacionamento nenhum - independentemente do tipo de amor e do tipo da traição - ser considerado uma escolha fácil. 



p. s. - Eu diria que escolha fácil é essa que os norte-americanos têm de fazer na eleição presidencial.
p. p. s. - Aproveitando o tema, sei que é imperdoável o tempo que eu levo para escrever algo aqui. Todavia, eu acredito que vocês acabaram de ler algo sobre como o perdão é uma demonstração de força. May the force be with you.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

House of Cunha

Talvez não esteja tão atarefada como já estive antes. Enfrentando a terceira greve de professores federais de minha carreira estudantil, eu deveria sim ter tempo livre - ao menos teoricamente. Na prática, a situação porém é outra, e em meio a produção de artigos e a leituras atrasadas que devem ser colocadas em dia, ainda não tive tempo de atualizar House of Cards, da Netflix, e acompanhar o jogo político que levará Frank Underwood a presidência dos Estados Unidos. Do jogo político no qual está o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, porém, não me abstenho. E ouso dizer que ele articula tão bem quanto Frank Underwood e que seus golpes e suas ações em nada envergonhariam o personagem de Kevin Spacey. 
Antes de mais nada, preciso me desculpar. Escrever tudo o que é necessário ser escrito sobre Cunha me demandaria muitas horas e no mínimo 10 postagens diferentes. Por isso, peço perdão por não falar da redução da maioridade penal nem dos seus planos de auxiliar seus patrocinadores de campanha. Hoje, preciso comentar sobre o tão esperado fim do relacionamento entre Cunha e o governo. O clima é de despedida. Só me sinto preparada pra escrever sobre isso depois do play em All by myself, que talvez seja a música que Dilma escuta agora, com a perda de um "aliado" que lhe apoiava apenas em teoria, como sempre fez questão de afirmar e como sempre deixou claro em seus votos na Câmara. 
É por isso que é interessante (e hilário) que agora, revoltado com a delação de Júlio Camargo - que lhe acusa de intimidação e de pedido de propina de 5 milhões de reais - o presidente tente intimidar o governo com uma saída da base que, na prática, já aconteceu faz tempo. Agora, que a ética e o suposto bom nome de Cunha está em jogo, os delatores Júlio Camargo e Youssef são uma tentativa de golpe de Janot contra ele.
Claro que também se começa a questionar os diversos vazamentos da delação premiada do doleiro. Questiona-se agora tudo o que ele já tenha dito, simplesmente porque finalmente associou-se Eduardo Cunha a Operação Lava-Jato. Espero do "paladino da justiça" Sérgio Moro tratamento idêntico ao que foi dispensado a Vaccari Neto. Espero que não haja nenhum tipo de simpatia do juiz para com o peemedebista: graças a Deus, apesar dos dois constantemente ignorarem a Constituição Federal, Moro já divulgou uma nota em resposta a afirmação de Cunha de que ele é dono do país dizendo que não está em seu poder silenciar testemunhas.
Quando perguntado sobre as tentativas de intimidação pelas quais foi acusado, a assessoria do peemedebista afirmou que ele não comenta leviandades. Me pergunto o que pensa a família tradicional brasileira sobre isso. Acusações de intimidação e de ter pedido 5 milhões de reais de propina são leviandades? Talvez agora que ele foi formalmente e politicamente para a oposição, Aécio Neves e ele possam chegar a um consenso de melhor emprego da palavra leviano. 
Enquanto Eduardo Cunha deseja que o governo lamente sua saída da base, eu estaria comemorando. Já há quem o compare a Severino Cavalcanti, presidente da Câmara que renunciou ao cargo por pressão muito menor do que a que enfrenta Cunha agora. Com ou sem impeachment, é a maior vitória da base desde nem me lembro quando. Não é hora de All by myself, é hora de dançar a Macarena. Agora, nos resta pressionar, torcer e assistir TV Câmara. Pode ser que House of Cunha esteja, afinal, ruindo e em seus últimos dias.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O fenômeno Marina Silva

A trágica morte de Eduardo Campos transformou Marina Silva, agora candidata a presidência, em um verdadeiro fenômeno político. As pesquisas do Datafolha veiculadas em 30/08, apontam empate técnico entre Marina e Dilma no primeiro turno e dão apenas 15% dos votos a Aécio Neves. Eu, sendo Dilma e Aécio, estaria preocupadíssima. Aécio porque pode fazer história, negativamente falando. O PSDB vai pelo menos ao segundo turno desde 2002. O auge do fenômeno Marina Silva é, paralelamente, a decadência da campanha presidencial do psdbista, cujas intenções de voto continuam em queda livre. Num eventual segundo turno, Marina contaria com os votos dos eleitores de Aécio Neves, de modo que as pesquisas apontam 10 pontos de vantagem dela sobre a atual presidente. Nem Lula, em meio a todos os escândalos de corrupção, se viu em uma situação tão complicada. Talvez por falta de um nome forte na oposição. José Serra alguma vez foi adversário digno de Lula? É muito interessante, dessa forma, observar que o maior obstáculo do PT nesse momento mais uma vez não vem do partido tucano, e sim de Marina Silva, uma "cria" do próprio partido e a mais nova queridinha do país.
É necessário, no entanto, analisar um pouco mais de perto a suposta nova política que Marina afirma ser. Qual dos seus novos eleitores sabem suas propostas para melhorar a educação? A saúde? A segurança? Um dos meus professores questionou uma colega sobre em quem ela iria votar. Quando ela respondeu Marina Silva, ele logo lhe perguntou o porque. Ela não sabia. A resposta foi de que "ela é muito humilde e gente boa".
Ela não sabia porque Marina é a rainha dos discursos vazios. Cheguei a rir da entrevista dela ao Jornal Nacional, mas, ao contrário do que aconteceu com a de Dilma, não li críticas a ela pela evasividade das respostas. Certa vez, li uma opinião de Ciro Gomes que sempre ressoa na minha mente quando ouço o discurso cheio de frases de efeito que Marina Silva passou a falar. "Tenho pavor de ver a superficialidade irresponsável com que Marina trata todos os assuntos políticos do Brasil". Não poderia concordar mais. Alguém por acaso sabe que somente para cumprir suas propostas de mobilidade urbana a candidata gastaria mais do que é investido em saúde ou educação no país? Não. Mas desde quando as promessas dela precisam ter coerência? Marina não precisa apresentar propostas coerentes porque é a imagem perfeita pra qualquer diretor de marketing vender. Se Dilma agrada somente aos mais humildes e se Aécio só é querido pelas elites, Marina consegue a proeza de agradar gregos e troianos. Para agradar aos mais pobres já é suficiente que ela tenha essa cor mestiça, esse biótipo de sofredora, batalhadora, analfabeta até os 16 anos, perseguida em seu próprio estado por lutar pela causa na qual acredita. É uma bela história de vida, de fato. Mas será que isso deveria ser suficiente para alcançar os votos dos brasileiros? À elite, agrada artistas e intelectuais. É historiadora, psicopedagoga, professora. E pra agradar mais, já lançou um programa de governo similar ao dos tucanos, propondo diminuir gastos do Estado, cortar ministérios e reduzir a ação dos bancos estatais, colocando o poder nas mãos dos bancos privados. 
Há quem compare Marina com Lula, mas os dois são extremamente diferentes. Para aqueles que verdadeiramente conhecem a história brasileira, é impossível não se lembrar de Jânio Quadrosou de Fernando Collor de Melo. Marina é a Caçadora de Marajás. Marina é também a mulher da vassoura.
As similaridades não param por aí. Marina é a "nova política" em oposição a uma velha para formar um "novo Brasil". Collor e Jânio também eram. Os três usaram e abusaram da simpatia para conquistar a aceitação do povo brasileiro. O alagoano e a acriana foram patrocinados pela elite brasileira - no caso de Marina, um dos nomes é a socióloga Maria Alice Setúbal, herdeira do banco Itaú - e pela nojenta mídia brasileira, que sustentou a eleição de Collor nas costas e já começa a dar sinais de que aguentará o peso da de Marina também. 
Eu também tenho pavor da superficialidade, Ciro Gomes. E se Regina Duarte pode dizer do que tem medo, eu também posso. Tenho medo que, por pressão, Marina não aguente o cargo presidencial e o abandone, como fez com o Ministério do Meio Ambiente e como o fez Jânio Quadros em mais uma das coincidências entre os dois, em 1961. Tenho medo que a história se repita, e que assim como a nova política proposta por Jânio e Collor deu errado, essa de Marina dê também. Que tipo de "nova política" é essa, que já começou sendo transportada em jatinho irregular? Marina Silva pode ser fenômeno sim, mas é inegável a incoerência e o discurso inconsistente que a cerca ao mesmo tempo. Evangélica, assumiu o compromisso de legalizar o casamento gay e a adoção de crianças por casais homossexuais. Voltou atrás. Agora, já não apoiará a causa. Não é também contraditório que a ex-ministra do Meio Ambiente, que citava em projeto de lei até verso bíblico na luta contra os transgênicos, tenha afirmado que sua oposição a estes era uma lenda? Mais contraditório ainda é Marina dizer que vai seguir a política econômica de FHC e a política social de Lula. Água e óleo se misturam, caro leitor? Marina promete não se envolver em alianças com os congressistas. Me pergunto como ela aprovará qualquer uma das promessas mirabolantes que tem feito. É preciso que a população brasileira não fuja da verdade. É preciso perceber que o discurso de Marina Silva, quando submetido ao calor de uma análise, é mais inconsistente que manteiga e derrete bem mais rápido que esta embaixo do Sol. 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

As Conspirações por trás das Teorias Conspiratórias

Não poderia começar esse texto de outra forma, senão expressando meu sentimento de luto e pesar pela morte do ex-governador de Pernambuco e do candidato a presidência da República, Eduardo Campos. O trabalho dele - tanto como governador de seu estado tanto como Ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula - foi excepcional. Mais do que isso, a importância que o candidato dava ao que deveria ser essencial - a educação - tem de ser ressaltada. No dia anterior ao seu falecimento, assisti a sua entrevista no Jornal Nacional na qual afirmava que os três pilares de seu governo seriam educação, educação e educação. Porque eu não duvido? Porque não acho que fosse mera promessa de campanha? Simples. Porque ele já o fez, durante seus dois mandatos (o segundo não concluído pelo início da campanha presidencial) em Pernambuco, onde fora reeleito com incríveis 83% dos votos. Realmente uma pena que com a política atual tão centralizada, o nome mais forte rumo a despolarização tenha sido perdido. Deixa 5 filhos, o mais novo, com apenas meses de idade e portador da Síndrome de Down. Sinto muito pela família. Sinto também pelos brasileiros. Achei que veria Eduardo Campos, num futuro mais distante, presidente deste país. Me enganei.
Apesar do pesar, acho importante falar sobre uma série de teorias conspiratórias que têm se espalhado pela rede. Amo a globalização e suas facilidades. A própria notícia da morte do pernambucano chegou em questão de horas após a queda do avião. Mas a mesma rede que divulga notícias praticamente em tempo real difama (vários) candidatos a presidência da Republica com teorias conspiratórias que, direta e indiretamente, influenciam no voto de uma parcela do grupo eleitor.
Digo isso porque recebi, no mesmo dia da morte do ex-governador, um SMS com teor supostamente cômico, mas com entrelinhas poderosas. O SMS dava a entender que o acidente, de acidente, não tinha absolutamente nada. O SMS ligava Dilma não só ao acidente de Campos, mas também ao grupo extremista Hamas. Me assustei. Será que não seria culpa dela também a briga pela Crimeia? Foi a única mentira que o desconhecido autor da mensagem esqueceu de contar.
Escrevo não para defender a candidata petista ou para dizer "ela ou seus companheiros petistas jamais fariam isso", porque mesmo tendo ciência de mensalões e desvios, desconheço o quão corrupta, infame e irracional pode ser a política brasileira e a sede de poder de seres humanos. Escrevo apenas tentando ratificar - e agora o faço - de que boatos como esses não devem e não podem influenciar o eleitor brasileiro. E não somente no que diz respeito a votar ou não em Dilma, mas sobre votar ou não em Aécio (já li teorias que creditam a ele a culpa do acidente) e sobre a própria Marina Silva, provável sucessora de Campos na corrida presidencial. Outro fator importante é não deixar a compaixão pelos familiares de Eduardo decidirem o futuro deste país. Campos infelizmente faleceu, mas nós, os vivos, continuaremos a colher o que plantamos e a sofrer com os atos daqueles nos quais votamos. Alguns tucanos estão assustados. Pesquisas internas, realizadas após o acidente, colocam Marina Silva com porcentagem similar a de Aécio. Estamos emocionados, chocados, comovidos e bestificados com o acidente. Mas porque levar a bestificação conosco para as urnas?
Eu sei. É difícil. É difícil não votar com o coração e é difícil não amar teorias conspiratórias. Eu também amo teoria sconspiratória. O que diabos aconteceu com o corpo de Ulysses Guimarães? Teria ACM mandado colocar açúcar na gasolina do helicóptero de Clériston Andrade? Qual a verdade sobre o acidente dele? São respostas que provavelmente jamais teremos. Se eu pensei sobre a possibilidade de Eduardo Campos ter sido assassinado? Pensei. Mas não divulguei como verdade, ou afirmei o ser. Fatalidades acontecem. Ou teria a torcida do Grêmio mandado matar Fernandão? Cuidado. Há muita conspiração por trás da divulgação em massa de teorias conspiratórias. Não deixe que isso afete o seu voto. Vote por escolha sua. Não deixe que, assim como o infeliz destino ceifou a vida de Eduardo Campos, a sua escolha de voto seja, indireta, discreta e sutilmente, ceifada de você.

PS - Não sou do tipo que só porque alguém morre esse alguém vira um santo. Admiro muito Eduardo Campos sim, como tentei deixar claro no texto, mas não concordei nem um pouco com a união política dele a Marina Silva, como você pode ler no texto Enrolados na Rede, publicado meses atrás.
PPS - Estou no último ano do curso, fazendo pré-vestibular e inglês ao mesmo tempo. Peço desculpas por não escrever com a frequência que eu mesmo gostaria... Mas tá muito difícil arranjar tempo pra dormir, quem dirá para escrever. Conto com sua paciência e fidelidade.

domingo, 9 de março de 2014

Se eu quiser beber, eu bebo?

Sou soteropolitana, mas não faço parte do grupo que ama carnaval e sai em todos os blocos. Assim sendo, esse texto não é sobre o sucesso do lepo lepo, ou sobre a saída de Bell do Chiclete com Banana. Nada disso é inconstitucional. Inconstitucional foi, por sua vez, a exclusividade de vendas da cervejaria Schincariol no circuito Osmar, no Campo Grande, e da cervejaria Itaipava no circuito Dodô, na Barra/Ondina.
As duas cervejarias investiram mais de R$ 20 milhões no carnaval de Salvador para obter a exclusividade da venda. Me pergunto que direito tem ACM Neto, sem sequer abrir licitação, de vender o direito dos ambulantes e comerciantes de venderem o seu produto. Mais de 200 mil latinhas de outras marcas foram apreendidas durante a festa, já que isso prejudicava as vendas dos patrocinadores. E não foram só os comerciantes que sofreram com a sanção: o folião que era visto tomando a cerveja proibida também tinha sua cervejinha apreendida.
São tantos os argumentos contra essa exclusividade que fica difícil escolher apenas um. E se no próximo ano a C&A resolver patrocinar a festa? Quem estiver na rua com roupas de outras lojas ficará nu? Parece, a mim, um monopólio das cervejas. Um ato de caráter ditador, mas quem se surpreende?  Assim, que se dane se o folião não gosta de Itaipava. Quem se importa se ele acha que "porque sim" não é  resposta? Netinho não é ditador. Ele jamais se assumiria assim. Ele é criativo. Ele é competente. Enganam-se. Ele é o neto da ditadura em forma de gente.
Não é novidade que nossos direitos básicos a educação, saúde e segurança têm sido negligenciados. O cidadão infelizmente já se acostumou com isso. O argumento do prefeito é de que com o patrocínio no carnaval, sobra dinheiro para investir em outras áreas, como a saúde. Será que realmente veremos este dinheiro que "sobrou" sendo bem utilizado? Faz-me rir. Esta exclusividade mexeu apenas no bolso do ambulante que teve mercadorias apreendidas e dos comerciantes que tiveram empreendimentos legalmente saqueados. Se muitos duvidavam que Neto seguiria os passos ditadores do avô, esta é a prova. A maçã enfim mostrou a que distância caiu da árvore. Não foi muito longe.

sábado, 5 de outubro de 2013

Enrolada na Rede

Acompanhei com bastante interesse o imbróglio de Marina Silva na tentativa de criação do Rede Sustentabilidade. A ex-senadora surpreendeu a todos ao conseguir 20 milhões de votos na última eleição presidencial, e surpreendeu o país novamente hoje (05/10) ao anunciar sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). 
Digo surpreendeu porque poderiam acusar Marina de muitas coisas, mas não de incoerente. A ambientalista abandonou o PT quando achou que este não partilhava mais dos seus ideais e se aliou ao PV, pelo qual disputou a eleição de 2010. Também abandonou o PV, prometendo uma nova opção entre os pólos da política atual, que se concentra em petistas e psdbistas. Marina prometeu uma nova política. Onde está ela? Na aliança com o PSB?
Não nego que deve ter sido uma situação complicada. Marina teve o registro de seu partido negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira, quando o prazo máximo para a criação de um partido que quer apresentar candidato a próxima eleição é neste sábado. A ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula encontrou dificuldade não somente em adquirir as assinaturas necessárias para a criação do Rede Sustentabilidade, mas também na validação destas. Muitos cartórios demoraram na validação e outros invalidaram as assinaturas sem apresentar nenhuma justificativa. Todavia, não estou aqui questionando o processo de criação de partidos políticos no país, ou mesmo a decisão do TSE, com a qual eu concordo. O que questiona-se aqui é a decisão da ambientalista de se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Marina deveria ter se mantido fiel no que acreditava, mas não o fez. Se seguisse a ideologia que alega, a acriana teria abdicado participar da próxima eleição presidencial. Mas seu segundo lugar nas pesquisas provavelmente a fez perceber que uma legenda com o PSB de Eduardo Campos (atualmente quarto colocado) lhe cairia muito bem, politicamente falando. Se a candidata queria tanto participar das eleições, porque não escolher um partido menor e menos estruturado? Isso lhe daria algum espaço para desenvolver seus sonhos e ideais. Mas o PSB é mais forte. Uma legenda com Campos, visto os adversários, provavelmente lhe garantirá um segundo turno. Alguém aí quer conversar com o Aécio Neves? 
E é por isso que ideologicamente falando, essa aliança com o PSB é incoerente e contraditória. Diferentemente do PV, o PSB sequer apresenta ideologia ambiental clara, que é um dos focos da acriana. Marina prometia uma nova política e novas opções. Não cumpriu. Apenas uniu-se a mais um partido que, apesar de ter um ou outro grande nome, como o próprio Campos, abandonou a base petista no meio do caminho. 
No fim, o que a ex-senadora oferece com essa filiação é a impressão de que se transformou de opção de voto a apenas mais uma enrolada na rede, que infelizmente não é de sustentabilidade. É a rede da política e dos acordos eleitorais, com as quais imaginou-se que ela não compactuava. Não se decidiu ainda quem é vice e quem é candidato a presidência desta nova legenda. A única certeza que temos, todavia, é a de que o povo brasileiro foi, mais uma vez, enrolado.